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Crase

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 Nota: Este artigo é sobre o fenômeno. Se procura pelo acento da fusão, veja Acento grave.

Crase é um dos metaplasmos por supressão de fonemas a que as palavras podem estar sujeitas à medida que uma língua evolui.[necessário esclarecer]

[1] Neste caso, há a fusão de dois fonemas vocálicos idênticos e seguidos em um só. [2]

Exemplos: {2}

  • door (português arcaico) > dor (em português)
  • noo (português arcaico) > (em português)
  • seer (português arcaico) > ser (em português)
  • veer (português arcaico) > ver (em português)

No português atual:

  • Crase com a de preposição, exemplo: à (a de artigo + a de preposição), àquela (a de preposição + o pronome demonstrativo aquela), entre outros; representados pelo sinal gráfico `;
  • Em verbos de 3ª conjugação na 1ª pessoa do singular no pretérito perfeito do indicativo, exemplo: sumi, sorri, parti (i de vogal temática com i de desinência número-pessoal), embora não representado graficamente neste caso.

O termo crase significa fusão, junção. Em português, a crase é o nome que se dá à contração da preposição "a" com:

  • artigo feminino "a" ou "as";
  • o "a" dos pronomes "aquele", "aqueloutro";
  • o "a" do pronome relativo "a qual" e "as quais";
  • o "a" do pronome demonstrativo "a" ou "as".

Obs.: Nunca haverá crase no termo a que, mesmo quando puder ser substituído por à qual. Ex.: A questão a que me refiro é esta. (A questão à qual me refiro é esta.) Quando à que é correto: Ouvimos uma voz igual à que o monstro enjaulado soltava. (À que = àquela que.)

O sinal que indica a fusão, que indica ter havido crase de dois aa, é o acento grave.

  • Acentua-se a preposição a quando, substituindo-se a palavra feminina por uma masculina, o a torna-se ao.
  • As palavras terra e casa são casos especiais de crase. A preposição "a" antes da palavra casa (lar) só recebe o acento grave quando vier acompanhada de um modificador,[1] caso contrário não ocorre a crase. Já com a palavra terra (chão firme, oposto a bordo) só ocorre crase quando vier acompanhada de um modificador — da mesma maneira que existe a expressão "a bordo", enquanto que com a palavra terra (terra natal ou planeta) sempre ocorre crase.

Exemplos:[2]

Chegamos cedo a casa (também "em casa").
Chegamos cedo à casa de meu pai.
Metaplasmos
Por adição de sons:
Prótese
Aglutinação
Epêntese
Anaptixe
Paragoge
Por supressão de sons:
Aférese
Deglutinação
Síncope
Haplologia
Apócope
Crase
Por modificação de sons:
Por transposição:
Metátese
Hipértese
Hiperbibasmo
Por transformação:
Apofonia
Assibilação
Assimilação
Desnasalização
Dissimilação
Ditongação
Fortição
Lenição
Metafonia
Monotongação
Nasalização
Palatalização
Sonorização
Os jangadeiros voltaram a terra.
Os jangadeiros chegaram à terra procurada.
Ele voltou à terra dos avós.
  • O pronome aquele (e variações) e também aquilo e aqueloutro (e variações) podem receber acento grave no a inicial, desde que haja um verbo ou um nome relativo que peça a preposição a.[2]
  • A contração "à" pode surgir também com a elipse de expressões como "à moda (de)", "à maneira (de)", como em "arroz à grega" (à maneira grega), "filé à Chatô" (à moda de Chatô)", etc. É este o único caso em que "à" se pode usar antes de um nome masculino.

Regras de verificação

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Para saber se a crase é aplicável, ou seja, se deve ser usada a contração à (com acento grave) em vez da preposição a (sem acento), aplique-se uma das regras de verificação:

1) Substitui-se a preposição a por outra preposição, como em ou para; se, com a substituição, o artigo definido a permanecer, então a crase é aplicável.

Exemplos:

Pedro viajou à Região Nordeste.

Com crase, porque equivale a Pedro viajou para a Região Nordeste.

Pedro viajou a Uberaba.

Sem crase, porque equivale a Pedro viajou para Uberaba.

2) Troca-se o complemento nominal, após "a", de um substantivo feminino para um substantivo masculino; se, com a troca, for necessário o uso da combinação ao, então a crase é aplicável.

Exemplos:

Prestou relevantes serviços à comunidade.

Com crase, porque ao se trocar o complemento — Prestou relevantes serviços ao povo — aparece a combinação ao.

Chegarei daqui a uma hora

Sem crase, porque ao se trocar o complemento — Chegarei daqui a um minuto — não aparece a combinação ao.

3) Quando se refere a locais para onde se dirige o sujeito, faz-se a pergunta inversa, a fim de se verificar se há ou não a necessidade do uso da crase. Essa regra pode ser definida pela frase: "SE VENHO DA.... CRASE HÁ; SE VENHO DE..., CRASE PRA QUE?".

Exemplos:

"Eu vou à Europa no próximo mês" (para se confirmar a necessidade ou não do uso da crase, fazemos a pergunta inversa: eu venho da Europa ou eu venho de Europa? Como a expressão correta é "eu venho da Europa", segue-se a necessidade do uso da crase).

"Eu vou a Paris, no próximo". (fazendo-se a pergunta inversa, temos: "eu venho da Paris ou eu venho de Paris?") Como a expressão correta, nesse caso (que inclusive soa bem ao ser expressa), é eu venho de Paris, então se conclui que não há necessidade do uso da crase.

Obs.: a crase não ocorre antes de palavras masculinas; antes de verbos, de pronomes pessoais, de nomes de cidade que não utilizam o artigo feminino, da palavra casa quando tem significado do próprio lar, da palavra terra quando tem sentido de solo e de expressões com palavras repetidas (dia a dia).

Crase facultativa

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A crase é facultativa nos seguintes casos:

Antes de nome próprio feminino:

Refiro-me à (a) Luciana.
Se o nome estiver qualificado, a crase será obrigatória. Exemplo: O prêmio Nobel da paz foi dado à bela Beatriz.
Em referência a pessoas com quem não se tem intimidade, a crase é proibida. Exemplo: Fizemos homenagem a Anita Garibaldi.

Antes de pronome possessivo feminino no singular (minha, tua, sua, dela, nossa e vossa), desde que seja pronome adjetivo:

Dirija-se à (a) sua fazenda.
Exceções:
1) A crase será obrigatória se este for um pronome possessivo substantivo. Exemplo: Dê mais valor à sua presença do que à minha.
2) Com pronomes possessivos no plural, não se trata de uma escolha entre as/às, mas sim de uma simples preposição (a) ou sua combinação com o artigo no plural (às): Juntamos a fotografia a/às suas notas.

Depois da preposição até:

Dirija-se até à (a) porta.
A palavra 'até' pode ser usada como palavra denotativa de inclusão - sinônima de também, mesmo ou inclusive - situação em que NÃO possui a variante 'até a'.
Exemplo: Conheço até os filmes antigos.

Casos proibidos

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Tendo por princípio basilar que a palavra "à" é o feminino de "ao", não existe crase onde também não cabe o uso de "ao". Portanto, nas seguintes situações:

Antes de verbos no infinitivo:

Preços a combinar.

Antes de substantivos masculinos, salvo no já supracitado caso de estar subentendida a expressão "à moda de":

Passear a cavalo

Antes de artigos indefinidos:[3]

Redirecionar a uma página

Antes de numerais, exceto horas:

De 10 a 100
Encontramos o produto numa faixa de preço que vai de R$120,00 a R$ 150,00.
O caminho vai de 20 a 30 quilômetros até o lugarejo.

Antes de plural sem o emprego do artigo definido "as", no sentido genérico:

a brilhantes psicólogas
a soluções
Exceção: Quando tomados em sentido específico, são precedidos do artigo as e admitem a crase: às rigorosas análises, às reivindicações

Após o uso de preposições:

Ante a descoberta o cientista gritou.
Após a voz de prisão o bandido entregou os comparsas.
Contra a ação do governo, João realizou um protesto.

Mas: Caminhamos até à (a) casa. (no caso específico de "até", a crase é facultativa)

Antes de pronomes pessoais, relativos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, possessivos masculinos e de tratamento (com exceção de senhora, senhorita):

Entregue o relatório a ela. (Pessoal)
Informei o novo horário a esse cliente. (Demonstrativo)
Ele é meu amigo, a quem sempre obedeço. (Relativo)
Jamais devi dinheiro a ninguém. (Indefinido)
A quem você será fiel? (Interrogativo)
Enviei dois ofícios a Vossa Senhoria. (Tratamento)

Obs.: Em pronomes demonstrativos aquele, aqueloutro (não mui corrente)... pode haver crase:

Mas: Voltei a (à) minha cidade natal. (No caso dos pronomes possessivos, a crase é facultativa))

Entreguei as chaves àquela mulher. (Demonstrativo)

Entre substantivos repetidos:

Dosava a medicação gota a gota
Os adversários estavam cara a cara.

Antes de topônimos de cidades que não admitem "a":

Vou a Salvador.
Vou a Lisboa.
Vou a Madri.

Obs.: substituir por "Fui à" ou "Vim da" (craseia-se) — "Fui a" ou "Vim de" (não se craseia).

Vou a Brasília.

Fui a Brasília. Vim de Brasília. (Não há crase)

Vou à Bahia.

Fui à Bahia. Vim da Bahia. (Há crase)

À exceção de: Quando o lugar está determinado com um adjunto adnominal, assim como ocorre com "casa" e "terra", a crase é obrigatória em topônimos que não admitem artigo

Vou à Lisboa dos poetas.
Vou à Brasília de Oscar Niemeyer.
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O Wikcionário tem o verbete crase.

Referências

  1. a b Lucas Martins (18 de março de 2007). «Crase». InfoEscola. Consultado em 16 de fevereiro de 2013 
  2. a b c «Crase: Regras de uso e emprego». UOL — Educação. 15 de junho de 2005. Consultado em 16 de fevereiro de 2013 
  3. Thaís Nicoleti de Camargo (25 de fevereiro de 2005). «Crase não ocorre antes de artigos indefinidos». UOL. Consultado em 28 de setembro de 2020 

Ligações externas

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