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Milesianos (Irlanda)

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Milesianos
Info/Povo Lendário
A Pedra do Destino. Local da contenda entre os Milesianos e os Tuatha Dé Danann
Informações sobre o Povo
País Irlanda
Locais Notáveis Condado de Kerry

Os milesianos foram um povo da mitologia irlandesa. Eram os descendentes de Míle Espáine, segundo o Lebor Gabála, foram o último povo a colonizar a Irlanda em suas eras míticas, acredita-se que os milesianos sejam, na realidade, os celtas gaélicos.

O Lebor Gabála (Livro das Invasões — escrito provavelmente na segunda metade do século XI, por monges cristãos) descreve a origem do povo gaélico. Conta-se que descendem de Catelo (Goídel Glas), um cita que supostamente esteve presente na Queda da Torre de Babel,[1] e de Scota, a filha do Faraó Cingri, um nome encontrado apenas nas lendas irlandesas, cujo avô foi Fénius Farsaid.[2]

Descendentes destes dois ramos que vieram respectivamente do Egito e da Cítia na época do Êxodo de Moisés, e, após vagar por um tempo pelas margens do Mediterrâneo (formando assentamentos na região de Mileto e Messina), chegaram à Península Ibérica, onde se estabeleceram após várias batalhas. Um deles, Breogán, construiu uma torre em um lugar chamado Brigantia (geralmente identificada com a Torre de Hércules), na atual Corunha, na Galiza, e deu origem a um povo celta, os brigantes. Brigantia tornou-se a cidade de Brigâncio durante a ocupação romana. Breogán e seu filho Ith puderam ver pela primeira vez a Ilha da Irlanda a partir do topo da torre.[3][4]

Ith organizou a primeira expedição para a Irlanda, mas foi morto pelos três reis da Irlanda, Mac Cuill, Mac Cecht, e Mac Gréine dos Tuatha Dé Danann. Como vingança os oito filhos do irmão de Íth, Míle Espáine (do latim: "Soldado da Hispânia", cujo nome foi posteriormente pseudo-latinizado para Milesius), liderou uma força de invasão para derrotar o Tuatha Dé e conquistar a Irlanda.[carece de fontes?]

Os filhos de Milesius, os milesianos, desembarcaram no Condado de Kerry e abriram caminho para a Colina de Tara. No caminho, as esposas dos três reis, Ériu, Banba e Fódla solicitaram que dessem seus nomes para a ilha. Afirma-se que Ériu é a forma mais antiga para o moderno Éire, e Banba e Fódla eram frequentemente usados como nomes poéticos para a Irlanda, tanto quanto Álbion é utilizado para se referir a Grã-Bretanha.[carece de fontes?]

Em Tara, os filhos de Míle encontraram os três reis, e estes lançaram um desafio aos invasores. Deveriam dar uma trégua de três dias, durante a qual retornariam a seus navios e navegariam até uma distância de nove ondas da costa, e, findado o prazo, caso conseguissem atracar novamente, seriam os novos regentes da Irlanda. Os milesianos aceitaram o desafio e colocaram seus navios na distancia acordada, os Tuatha Dé então fizeram um feitiço que evocou uma grande tempestade que impediria atracarem de volta à terra. No entanto, Amergin pôde acalmar a tempestade recitando um encantamento. Cinco dos filhos de Míle morreram afogados. Os sobreviventes, Eber Finn, Érimón e Amergin, o Poeta, voltaram à terra e tomaram a ilha. Amergin dividiu a ilha entre Érimón, que governou o norte, e Eber Finn, o sul.[5][6]

Os estudiosos modernos acreditam que a lenda dos milesianos é uma invenção dos escritores cristãos medievais e foi inspirado pelo seu conhecimento dos sete livros da História contra os pagãos, escrito por volta do século V pelo clérigo galécio Paulo Orósio.[7]

Durante séculos, o mito de Míle Espáine e dos milesianos foi utilizado na Irlanda garantir a legitimidade dinástica e política. Por exemplo, em seus dois volumes da História da Irlanda (1571), Edmundo Campion tentou usar o mito para estabelecer o direito do monarca britânico governar a Irlanda. Em sua obra A View of the Present State of Ireland ("Uma Visão sobre o Estado Atual da Irlanda"), Edmund Spenser aceitou e rejeitou várias partes do mito tanto para denegrir os irlandeses como para justificar a colonização inglesa da Irlanda no auge da Guerra Anglo-Espanhola em 1590.[8]

O mito foi citado durante a disputa dos bardos, que durou de 1616 a 1624. Durante este período, os poetas do norte e do sul da ilha exaltavam os méritos das dinastias que lhes patrocinavam, e atacavam as dinastias adversárias.[9]

A obra de Geoffrey Keating, Foras Feasa ar Éirinn (1634) se utilizou do mito para promover a legitimidade dos Stuart em pretensão de autoridade real na Irlanda, algo relacionado com a origem da Lia Fáil (Pedra do Destino) na Colina de Tara e procurando demonstrar que Charles I era descendente de Breogán.[10]

Referências

  1. Jan Willem Drijvers Strabo 17.1.18 (801C): Inaros, the Milesians and Naucratis (em inglês) Mnemosyne Fourth Series, Vol. 52, Fasc. 1 (Feb., 1999), pp. 16-22 BRILL
  2. Charlotte Elizabeth The Christian Lady's Magazine, Volume 13 (em inglês) R. B. Seeley and W. Burnside, 1840 p. 171
  3. Lebor Gabála Érenn: Book of the Taking of Ireland Part 1. R. A. S. Macalister. Dublin: Irish Texts Society, 1941. in Celtic Litterature Collective (em inglês) página visitada em 10/03/2015
  4. Lebor Gabála Part 1 of Book of Leinster (en irlandês) University College Cork (UCC) on line parágrafo 240 página visitada em 10/03/2014
  5. Eduardo Amaro e Marcelo Moreira Alma celta Leya, 2014 pp. 44-46 ISBN 9788577345120
  6. Lebor Gabála Érenn Arquivado em 6 de julho de 2010, no Wayback Machine.: §65-95 The Milesians in Celtic Litterature Collective (em inglês) página visitada em 11/03/2015
  7. John Carey Did the Irish Come from Spain? in Ireland's History Magazine, Edição 3 (2001), Pré-história / Arqueologia, Volume 9 página visitada em 11/03/2015
  8. Joseph Lennon Irish Orientalism: A Literary and Intellectual History (em inglês) Syracuse University Press, 2008 p. 45 ISBN 9780815631644
  9. Lucy McDiarmid, The Irish Art of Controversy (em inglês) Cornell University Press, 2005 p. 226 ISBN 9780801443534
  10. David J. Butler South Tipperary, 1570-1841: Religion, Land and Rivalry (em inglês) Four Courts, 2006 p. 71 ISBN 9781851828913