Quiva
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Cidade | ||||
Vista parcial da parte ocidental da Itchan Kala, a cidade muralhada interior de Quiva[a] | ||||
Localização | ||||
Localização de Quiva no Usbequistão | ||||
Coordenadas | 41° 23′ N, 60° 22′ L | |||
País | Uzbequistão | |||
Província | Corásmia | |||
Características geográficas | ||||
Área total | 460 km² | |||
• Área urbana | 17,3 km² | |||
População total (2020) [1][2] | 144 895 hab. | |||
• População urbana | 92 176 | |||
Densidade | 315 hab./km² | |||
• Densidade urbana | 5 328,1 hab./km² | |||
Altitude | 90 m |
Quiva ou Carizim[3] (em usbeque: Xiva / Хива; em persa: خیوه; romaniz.: Xīveh) também grafado Khiva e Khrarizim, é uma cidade do Usbequistão, situada num oásis junto à fronteira com o Turquemenistão, que faz parte do viloyat (província) da Corásmia (Xorazm). No passado chamou-se Khwarezm, Khorezm ou Corásmia, como a região histórica de que foi a capital em várias ocasiões, mencionada pelo geógrafo grego do século V a.C. Heródoto.[4] Entre o século XVI e o início do século XX foi a capital do Canato de Quiva.
Graças aos seus monumentos, a cidade é um dos destinos turísticos mais visitados do país. Itchan Kala, uma cidade muralhada no seu interior, onde estava instalada a corte do canato, foi o primeiro sítio do Usbequistão a ser classificado como Património Mundial, em 1991. Além da cidade, o distrito (ou município) de Quiva tem mais nove localidades[carece de fontes] e 460 km² de área,[1] dos quais 143,2km² são terrenos agrícolas;[carece de fontes] em 2020 tinha 144 895 habitantes (densidade: 315 hab./km²).[1] A cidade tem 17,3 km² de área e em 2020 tinha 92 176 habitantes (densidade: 5 328,1 hab./km²).[2]
Nomes e etimologia
[editar | editar código-fonte]O topónimo tem numerosas variantes históricas e atuais, desde Chorasmia em latim até Xīveh do persa, passando por Carizim, Chorezm, Harezm, Horezm, Kharazm, Khaurism, Kheeva, Khorasam, Khoresm, Khrarizim, Khorezm, Khwarazm, Khwarazm, Khwarazm, Khwarezm, Khwarezmia, Khwarizm, Xwarezm. À exceção dos nomes mais recentes, semelhantes a Quiva, Xiva, Chiwa ou Chiva, quase todos se confundem com os nomes ou grafias da Corásmia, a região histórica onde se situa a cidade.
A origem do nome Quiva é desconhecida, havendo várias teorias ou histórias contraditórias para o explicar. Há uma lenda que atribui o nome a Sem, um dos filhos de Noé. Sem, de cujo nome deriva a palavra "semita", deu consigo a deambular sozinho no deserto depois do Dilúvio. Tendo adormecido, sonhou com 300 tochas a arder e ao acordar ficou satisfeito com o presságio e fundou a cidade com os limites em forma de navio, de acordo com a disposição das tochas com que tinha sonhado. Seguidamente, Sem escavou o poço Kheyvak, cuja água tinha um sabor que foi uma agradável supresa. Esse poço está atualmente em Itchan Kala, a cidade interior de Quiva.[5][6]
Outra história relata que viajantes que passavam pela cidade, depois de beberem a excelente água, exclamaram "Khey vakh!" ("que prazer!") e desde então a cidade passou a ser conhecida como Kheyvakh, que deu origem a Khiva. Outra teoria é que o nome provém do nome em persa ou árabe da Corásmia (Khwarezm ou algo semelhante), que passou para o turcomano com Khivarezem, que foi abreviado para Khiva.
Geografia
[editar | editar código-fonte]Quiva situa-se algumas dezenas de quilómetros a sul e sudoeste do rio Amu Dária (antigo Oxo), a sudoeste do deserto de Kyzyl Kum e a norte do deserto de Karakum, cujo limite é na parte sul da cidade. Confina a noroeste com o município de Qoʻshkoʻpir, a norte com o de Urguenche, a capital provincial, a nordeste com o de Yanguiarik e a sul com o Turquemenistão. Os canais de Palvan-Yap e Sertchali atravessam a cidade. Urguenche fica menos de 30 km a nordeste, Nucus 180 km a noroeste, Bucara 440 km a sudeste, Samarcanda 685 km a sudeste e Tasquente, a capital nacional, 980 km a leste (distâncias por estrada).
O clima é do tipo continental, com verões longos e quentes, invernos curtos e precipitação escassa (média anual de 90 a 100 mm). A temperatura média é 4,5 °C em janeiro e 27,4 °C em junho, mas pode chegar aos 44 °C.
História
[editar | editar código-fonte]Segundo alguns autores, há dados arqueológicos que apontam para que a cidade tenha sido estabelecida c. século XIII a.C.[7][8][9] Outras fontes referem que os vestígios arqueológicos mais antigos datam do século VI d.C. Os primeiros registos históricos são de dois viajantes árabes do século X.[10] Oficialmente a cidade foi fundada no século VI a.C., já que em 1997 foi celebrado o 2500.º aniversário.[11]
Na região, muito árida, foi desenvolvido um sistema de irrigação complexo a partir do 2.º Milénio a.C. e ao longo da história foi invadida por diversos conquistadores, nomeadamente persas, gregos (Alexandre, o Grande e os seus sucessores), árabes, mongóis, usbeques e outros povos turcomanos.[13] A cidade era o último local de paragem das caravanas, nomeadamente da Rota da Seda, antes da travessia do deserto em direção ao mar Cáspio, situado cerca de 200 km a ocidente em linha reta, e da Pérsia.[6]
Nos primeiros séculos da sua história, os habitantes da região eram sobretudo de origem ariana e falavam uma língua iraniana oriental, o corásmio.[14] Khwarezm foi uma cidade importante da Corásmia, e cerca do século IV ou pouco depois os corésmios construíram uma muralha dupla para conterem as constantes tentativas de invasão dos persas aqueménidas, nas quais havia torres com cerca de 20 metros de altura guarnecidas com arqueiros. Devido à erosão causada pelo deserto, essas muralhas tiveram que ser reconstruídas nos primeiros séculos d.C., quando também foi reconstruída uma cidadela. As novas muralhas tinham entre 7 e 9 metros de espessura e duraram até à conquista islâmica da Transoxiana, em 709, quando a cidade foi destruída pelo general do Califado Omíada Cutaiba ibne Muslim.[15]
Durante os séculos IX e X, quando fez parte do Império Samânida, desenvolveu-se extraordinariamente, tornando-se um polo económico e cultural regional, havendo alguns historiadores que estimam que tivesse chegado a ter 800 mil habitantes.[16] A partir do século X, as classes governantes persas da Corásmia, uma região que durante muitos séculos foi cultural e politicamente persa, foram gradualmente substituídos por dinastias turcomanas e a maior parte dos habitantes da região passaram a falar línguas turcomanas.[carece de fontes] A situação política e militar da região nos séculos X e XI foi conturbada, com conflitos permanentes entre as dinastias de origem persa e as de origem turca, com frequentes trocas e quedas de cidades e capitais.[14] Em 1220 ou 1221, Khwarezm foi devastada pelas tropas de Gêngis Cã, mas graças fama da sua indústria, nomeadamente de cerâmica e azulejos, recuperou rapidamente. O perímetro atual das muralhas de Itchan Kala foram construídas no século XIV,[16] embora algumas partes sejam anteriores e a maior parte tenha sido reconstruída no século XVII.[17] Nessa altura tinha voltado a ser uma cidade rica, que exportava a sua cerâmica e outros bens através da Rota da Seda.[16]
Em 1505 a cidade foi conquistada por Mamude Sultão, irmão do fundador do Canato de Bucara, Maomé Xaibani. O domínio dos xaibânidas de Bucara durou apenas cinco anos, pois após Maomé Xaibani ter sido morto em Merve em 1510, os corásmios tornaram-se independentes durante algum tempo. O início do século XVI na região foi turbulento política e militarmente, devido a ser uma zona de confronto entre os os cãs de Bucara e o canato fundado na Corásmia em 1511,[16] que depois ficaria conhecido como Canato de Quiva, que tinha a sua capital em Gurganje ("Velha Urguenche", atual Köneürgenç no Turquemenistão), situada 165 km a noroeste de Quiva. O canato de Gurganje foi fundado por uma dinastia usbeque e em 1598 a sua capital foi transferida para Quiva,[18] após o Amu Dária ter mudado o seu percurso, deixando de passar em Gurganje, cuja população foi obrigada a mudar-se para Quiva.[16]
A cidade tornou-se um importante centro de cultura especialmente durante o reinado de Abulgazi Badur (r. 1643–1664), um cã muito culto que também foi historiador. Os governantes de Quiva patrocinaram não só edifícios religiosos, mas também públicos, como hamames e outros, além de canais de irrigação.[16] Nesse mesmo século começou também a desenvolver-se como um centro de comércio de escravos. Na primeira metade do século XIX, cerca de um milhão de persas e um número desconhecido de russos foram escravizados e vendidos em Quiva. Uma grande parte deles estiveram envolvidos na construção de edifícios de Itchan Kala.[10]
Durante a conquista russa do Turquestão, o general russo Konstantin von Kaufman atacou a cidade, que caiu a 28 de maio de 1873.[10] Embora a Rússia passasse a controlar de facto o canato, este manteve alguma independência como protetorado, que foi formalizado pelo Tratado de Guendemã, de 1873.[13] Na sequência da tomada do poder na Rússia pelos bolcheviques depois da Revolução de Outubro de 1917, em 1920 o Canato de Quiva foi extinto e no seu lugar foi criada a República Soviética Popular da Corásmia, com capital em Quiva, que duraria até 1924, quando foi incorporada na República Socialista Soviética Usbeque, parte da União Soviética. Desde então a cidade perdeu a sua anterior importância política.[10]
Eruditos ligados à cidade
[editar | editar código-fonte]Quiva é a cidade natal de Alcuarismi (Muhammad Ibn Mūsā al-Khuwārizmī; 780–c. 850), um matemático, astrónomo, astrólogo, geógrafo e autor persa que trabalhou na Casa da Sabedoria de Bagdade, então a capital abássida, conhecido como o pai da álgebra. Segundo algumas fontes, o polímata persa Albiruni (973–1048), que se distinguiu em várias áreas do conhecimento, nomeadamente na astronomia, também nasceu em Quiva,[19] embora o seu nome e a maior parte dos historiadores apontem para que tenha nascido em Cate (atual Beruni), situada pouco mais de 50 km a nordeste de Quiva.
Segundo alguns autores, nos primeiros anos do século XI, o médico e filósofo persa Avicena (ibn Sīnā) abandonou Bucara, onde tinha nascido, e residiu nove anos em Quiva, que desde 994 era a capital dum principado independente cujo soberano era amante das ciências e rodeou-se de numerosos sábios. Foi em Quiva que Avicena começou a escrever os seus primeiros livros, quando tinha 21 anos de idade. Devido à instabilidade política da região e ao facto de não querer servir governantes turcomanos, inimigos dos persas, Avicena abandonou a cidade.[14]
Descrição e atrações turísticas
[editar | editar código-fonte]Quiva está dividida em duas partes. A cidade exterior, chamada Dichan Kala, era outrora protegida por uma muralha com onze portas. A cidade interior, Itchan Kala, é rodeada por muralhas de adobe com ameias cujas fundações se acredita serem do século X. O centro histórico tem 240 hectares de área,[10] 26 deles em Itchan Kala, que está classificada pela UNESCO como Património Mundial desde 1990.[20]
A classificação de Património Mundial de Itchan Kala deve-se sobretudo ao conjunto da malha urbana, considerado um exemplo coerente e bem preservado da arquitetura islâmica da Ásia Central. Quase todos os edifícios são dos séculos XVIII e XIX, exceto o baluarte de Ak Cheikh Bobo (do século XII)[carece de fontes] e do mausoléu de Saíde Alaudim (do século XIV).[21] No Itchan Kala há mais de 250 casas antigas e 50 monumentos históricos, dos quais se destacam a Mesquita Juma, vários mausoléus e madraças, bem como de dois palácios magníficos construídos no início do século XIX por Alaculi Cã.[20]
Notas
[editar | editar código-fonte]- Texto inicialmente baseado na tradução dos artigos «Khiva» na Wikipédia em francês (acessado nesta versão) e «Khiva» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
- ↑ Complemento da legenda da fotografia na caixa do canto superior direito: vista tomada desde o cimo da Kunya Ark (o palácio real mais antigo), cuja zona frontal aparece em primeiro plano; em segundo plano: Madraça de Maomé Raxim Cã (esquerda); ao fundo à esquerda, o ivã da Madraça Allah Kouli Khan e, da esquerda para a direita, os minaretes de Palvan Kori, Sayid Niaz Sheliker, da Mesquita Juma (ao centro) e de Islam Khoja, com a cúpula do mausoléu de Pahlavan Mahmud à sua direita
- ↑ Complemento da legenda da fotografia panorâmica inferior: vista tomada desde o cimo da Kunya Ark (o palácio real mais antigo); em segundo plano: Madraça de Maomé Raxim Cã (centro); ao fundo à esquerda, o ivã da Madraça Allah Kouli Khan e, da esquerda para a direita), os minaretes de Palvan Kori, Sayid Niaz Sheliker, da Mesquita Juma (ao centro) e de Islam Khoja, mausoléu de Pahlavan Mahmoud, madraças Shergazi Khan (ao fundo) e Matniyaz Divanbegi, Minarete Kalta Minar e Madraça Amin Khan
Referências
- ↑ a b c «Xiva (District, Uzbekistan)» (em inglês). CityPopulation.de. Consultado em 31 de outubro de 2020
- ↑ a b «Xiva (City, Uzbekistan)» (em inglês). CityPopulation.de. Consultado em 31 de outubro de 2020
- ↑ «Boletim do Instituto Luís de Camões». 1 (1). 1965
- ↑ Cagnat, René (2012), Asie centrale, Guide Mondeos (em francês), Paris, p. 92
- ↑ Nashriyoti, Davr (2012), Khiva: The City and the Legends, ISBN 9789943339262, Tasquente, p. 2
- ↑ a b Ouzbékistan (em francês), Guias Petit Futé, 2012, p. 243
- ↑ Bulatova, V. A.; Notkin, I. I. (1972), Архитектурные памятники Хивы [Monumentos arquitetónicos de Khiva] (em russo), Guia, Tasquente
- ↑ Хива [Khiva] (em russo), Arquitetura e fotos, Tasquente, 1973
- ↑ Pugachenkova, G.; Shakhrisyabz, Termez (1976), Хива [Khiva] (em russo)
- ↑ a b c d e Khiva (em inglês), Encyclopædia Britannica, consultado em 16 de setembro de 2020
- ↑ Ibbostson & Burford 2020, p. 253.
- ↑ Lansdell 1885.
- ↑ a b História diplomática em cinco tomos (em russo), Moscovo: Edições do Estado de literatura política, 1961, Tomo II
- ↑ a b c Mazliak, Paul (2004), Avicenne & Averroès: médecine et biologie dans la civilisation de l'Islam, ISBN 9782711753260 (em francês), Vuibert, pp. 17-20
- ↑ Ibbostson & Burford 2020, pp. 253-254.
- ↑ a b c d e f Ibbostson & Burford 2020, p. 254.
- ↑ Ibbostson & Burford 2020, p. 260.
- ↑ Veselovsky, Nikolai (1877), Visão geral histórico-geográfica do canato de Khiva (em russo), São Petersburgo, p. 244
- ↑ «Khiva, a legendary city in the heart of Central Asia», Istambul: www.dailysabah.com, Daily Sabah (em inglês), 29 de dezembro de 2018, consultado em 15 de setembro de 2020
- ↑ a b Itchan Kala. UNESCO World Heritage Centre - World Heritage List (whc.unesco.org). Em inglês ; em francês ; em espanhol. Páginas visitadas em 10 de outubro de 2020.
- ↑ Ibbostson & Burford 2020, p. 265.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Alexander, Christopher Aslan (2010), A Carpet Ride to Khiva: Seven Years on the Silk Road, ISBN 9781848312715 (em inglês), Londres: Icon Books, consultado em 16 de setembro de 2020
- Ali Suavi (1873), Le Khiva en mars 1873 (em francês), Paris: Maisonneuve, consultado em 16 de setembro de 2020
- Burnaby, Frederick (1997) [1876], A Ride to Khiva (em inglês), Oxford University Press
- Colquhoun, Archibald Ross (1900), Russia Against India: The Struggle for Asia (em inglês), Harper, consultado em 16 de setembro de 2020
- Goulichambaroff, S. (1913), Khiva (em russo), Askhabad
- Ibbostson, Sophie; Burford, Tim (2020), Uzbekistahn, ISBN 9781784771089 (em inglês) 3.ª ed. , Chesham: Bradt Travel Guides
- Lansdell, Henry (1885), Russian Central Asia: including Kuldja, Bokhara, Khiva and Merv (em inglês), Londres: S. Low, Marston, Searle and Rivington
- MacGahan, Januarius Aloysius (1874), Campaigning on the Oxus, and the Fall of Khiva (em inglês), Londres: Harper & Brothers, consultado em 16 de setembro de 2020
- Moser, Heinrich (1885), À travers l'Asie Centrale: la steppe kirghize, le Turkestan russe, Boukhara, Khiva, le pays des Turcomans et la Perse, impressions de voyage (em francês), Paris: Plon
- Sourdel, Dominique; Sourdel, Janine (1996), Dictionnaire historique de l'Islam, ISBN 978-2-1304-7320-6 (em francês), Presses Universitaires de France
Em Quiva situa-se sítio "Itchan Kala", Património Mundial da UNESCO. |