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Bufo-real

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Estado de conservação
Quase ameaçada
Quase ameaçada (IUCN 3.1)
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Strigiformes
Família: Strigidae
Género: Bubo
Espécie: B. bubo
Nome binomial
Bubo bubo
(Linnaeus, 1758)
Distribuição geográfica

Bubo bubo bubo - MHNT

O Bubo bubo[1],comummente conhecido como bufo-real[2][3], é uma espécie de ave estrigiforme pertencente à família dos Estrigídeos.

Além do substantivo bufo-real, esta ave é ainda comummente conhecida como corujão[4], martaranho[5], mocho-real[6], ujo[7] ou simplesmente bufo.[8]

No que toca ao nome científico, o substantivo latino bubo[9], de origem onomatopaica, que se liga com o piar peculiar das aves deste género.[10]

Quanto ao nome comum, «Bufo-real», o substantivo «bufo» é uma corruptela do nome latino clássico, bubo.[10]

Características

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Trata-se duma ave de rapina noctívaga de grande porte, com efeito é atualmente a maior ave de rapina nocturna do Paleárctico Ocidental e uma das maiores do mundo, podendo chegar aos 86 cm de comprimento, variando entre 1,70 a 2,10 metros de envergadura, podendo pesar até 5,5 quilos.[11]

Com efeito, os espécimes de maiores dimensões pertencem à subespécie Bubo bubo sibiricus[12], sendo que os machos atingem comprimentos de asa na ordem dos 45,6 centímetros, ao passo que as das fêmeas costumam ser um pouco maiores com 49,1 centímetros.[12] Pelo que há, como ficou demonstrado, dimorfismo sexual, nesta espécie.[11]

No que toca à subespécie natural de Portugal, a Bubo bubo hispanus, as dimensões são mais modestas, com comprimentos de asa na ordem dos 42,2 centímetros para os machos e 45,3 centímetros para as fêmeas[13].

Na cabeça, de grandes proporções, sobressaem-lhe os compridos penachos auriculares, popularmente denominados «orelhas»[13]. Estes penachos auriculares levantam-se quando a ave voa, pia ou é perturbada e baixam, nos demais momentos, quando a ave se encontra mais descontraída ou ansiosa.[11]

Tem grandes olhos, cuja íris assume uma coloração entre o amarelo-alaranjado e o laranja-avermelhado.[13][12]

O disco facial apresenta uma tonalidade de castanho-acinzentado, sendo que as partes mais cimeiras já são integralmente castanhas.[11]

A plumagem, em geral, é bastante densa, o que contribui para conferir a esta espécie a aparência de terem um um arcabouço possante e compacto.[11] A plumagem alterna entre tons de castanho-avermelhado e castanho-amarelado, sendo que, no dorso apresenta manchas e riscas entre o castanho-escuro e o preto.[14] Nas partes inferiores, por seu turno, já se depara com uma plumagem mais uniformemente castanho-amarelada.[13]

Quanto ao peito, costuma exibir riscas longitudinais grossas, de cor preta, que se vão adelgaçando ao chegar ao ventre, tornando-se já quase imperceptíveis.[11][14]

A face interior das asas, esta afigura-se mais clara do que a face exterior.[11]

Tem os tarsos e os dedos revestidos de penas, contando ainda com fortes esporões e garras castanho-escuras, que vão escurecendo até à ponta.[14][11]

O bico é de cor preta, ao passo que a garganta já é de uma contrastante tonalidade alvadia, que ganha maior destaque, quando a ave pia. [11]

Distribuição geográfica

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Está presente na Europa, Ásia e África.[13] É mais comum no nordeste da Europa, mas também na zona circundante ao Mar Mediterrâneo, incluindo a Península Ibérica, sendo contudo bastante raro.[13][15]

Esta espécie, tendo em conta os seus hábitos noctívagos, dificilmente será visível de dia.[15] No entanto, mercê da sua actividade vocal, que por sinal é mais intensa nos meses de Novembro a Fevereiro, é possível detectar a sua presença à noite.[15]

Esta ave de rapina privilegia as regiões mais remotas do interior do país, mormente entre zonas rochosas e pouco propensas a serem perturbadas pela presença humana, para nidificar.[15]

Contam-se, ainda, algumas áreas de nidificação típicas, nas serras da Arga e Amarela e ainda na zona de Castro Laboreiro, na região do Minho; nas cercanias de Miranda do Douro e do Penedo Durão[16], em Trás-os-Montes; nas Portas de Ródão, bem como no vale do rio Águeda, na região da Beira Interior e, ainda, na serra de São Mamede, nos azinhais de Cabeção e ao longo do vale do Guadiana, no Alentejo.[17]

Bufo-real sendo atacado por gralhas.

Esta espécie exibe uma preferência por zonas com alguma rochosas, situadas em regiões de baixa a média altitudes, por entre matagais ou nas cercanias de culturas de sequeiro.[18] [19]

Alguns dos factores que propiciam o aparecimento dos bufos-reais são a disponibilidade de coelhos-bravos, a sua presa principal; a heterogeneidade da paisagem, oferecendo mais espaços onde se possa resguardar; o afastamento de espaços com forte presença humana.[19]

No Sul de Portugal, os vales ripícolas; as cristas rochosas, cerceadas matorrais; as courelas agricultadas em sequeiro ou os montados pouco densos, onde haja abundância de presas, costumam ser espaços privilegiados pelo bufo-real.[14][13][20]

Nidifica em cavidades de troncos de árvores e a postura é de 2 a 3 ovos, entre Abril e Maio.[15][18]

Comportamento

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O Bufo-real é uma espécie de pendor sedentário e particularmente territorial, geralmente não se arredando do seu espaço vital[12]. Todavia, há algumas populações nos territórios mais setentrionais, por exemplo na Rússia, que exibem um comportamento nómada, quando confrontadas com lnvernos mais agrestes.[21][12]

Os espécies juvenis costumam dispersar-se, podendo afastar-se, em casos excepcionais até 200 quilómetros, contudo, na generalidade dos casos, a maioria dos juvenis nunca se afasta mais do 50 quilómetros [21][12], Esta espécie mantém actividade, tanto durante o período crepuscular, como nocturno, pelo que a seu estudo ornitológico se abarba com algumas dificuldades[12].

Em todo o caso, demonstra expressivas e amiudadas vocalizações, visto que os chamamentos consistem no meio mais usado para a escorraçar invasores do seu território ou para atrair de parceiros[12].

Trata-se de um predador de topo, encontrando-se nos lugares mais elevados na cadeia trófica. Alimenta-se de ratos, ratazanas, gaivotas, patos, lebres e inclusive de outros bufos e aves de rapina.[21] É violentamente atacado por gaivotas e gralhas em bandos. É principalmente noturno e emite os seus chamamentos ao anoitecer e ao amanhecer. A sua vocalização[22] é um uuu-uu repetido e grave.[20]

Estima-se que esta espécie exista desde há 250.000 anos, remontando ao período do Pleistoceno Médio.[11]

Já foram descobertas peças fósseis desta espécie em Portugal, nos seguintes locais: Gruta do Caldeirão, Furninha, Gruta de casa da Moura, Gruta da Figueira Brava e Galeria Pesada.[20]

Esta espécie encontra-se arrolada à lista do Anexo A-I do Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de Abril, sob a epígrafe «espécies de aves de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de zonas de protecção especial» .[23]

Atualmente, o Bufo-Real encontra-se em extinção, por várias causas, mas as mais pertinentes são: o envenenamento, a destruição dos seus habitats e a perseguição humana.

Referências

  1. «Bubo bubo / Strigidae / Rapinas / Aves / Espécies e habitats / Início - Biodiversidade da Mitra». www.mitra-nature.uevora.pt. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  2. Infopédia. «bufo-real | Definição ou significado de bufo-real no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 11 de junho de 2021 
  3. Paixão, Paulo (2021). Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo (PDF). [S.l.]: A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 161. 334 páginas. ISBN 978-989-33-2134-8. ISSN 1830-7809 
  4. Infopédia. «corujão | Definição ou significado de corujão no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 11 de junho de 2021 
  5. Infopédia. «martaranho | Definição ou significado de martaranho no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 11 de junho de 2021 
  6. Infopédia. «mocho-real | Definição ou significado de mocho-real no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 11 de junho de 2021 
  7. Infopédia. «ujo | Definição ou significado de ujo no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 11 de junho de 2021 
  8. Infopédia. «bufo | Definição ou significado de bufo no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 11 de junho de 2021 
  9. «Bubo - ONLINE LATIN DICTIONARY - Latin - English». www.online-latin-dictionary.com. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  10. a b Paixão, Paulo (2021). Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo (PDF). [S.l.]: A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 158. 334 páginas. ISBN 978-989-33-2134-8. ISSN 1830-7809 
  11. a b c d e f g h i j «Bubo bubo». Museu Virtual Biodiversidade. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  12. a b c d e f g h Mikkola, Heimo (2010). Owls of Europe (Poyser Monographs). London, UK: Bloomsbury Publishing. 440 páginas. ISBN 1408136759 
  13. a b c d e f g Lourenço, Rui Nascimento Fazenda (2005). «A ecologia trófica do Bufo-real (Bubo bubo) e as implicações conservacionistas em ecossistemas mediterrânicos» (PDF). dspace.uevora.pt. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  14. a b c d Pinheiro, Ana Isabel Rodrigues (2003). «Biologia e ecologia do bufo-real (bubo bubo) na área de regolfo da Barragem de Alqueva + Pedrogão» (PDF). rdpc.uevora.pt. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  15. a b c d e «Bufo-real (Bubo bubo)». www.avesdeportugal.info. Consultado em 11 de junho de 2021 
  16. «Miradouro Penedo Durão - Freixo de Espada à Cinta | Guia para visitar em 2021 - oGuia». www.guiadacidade.pt. Consultado em 11 de junho de 2021 
  17. «Página de Espécie • Naturdata - Biodiversidade em Portugal». Naturdata - Biodiversidade em Portugal. Consultado em 11 de junho de 2021 
  18. a b Donazár, J.A. (Dezembro 1988). «SELECCION DEL HABITAT DE NIDIFICACION POR EL BUHO REAL (BUBO BUBO) EN NAVARRA» (PDF). Ardeola. International Journal of Ornithology (32): 233-245 
  19. a b Penteriani, V.; Gallardo, Max; Roche, P.; Cazassus, Hélène (2001). «Effects of landscape spatial structure and composition on the settlement of the Eagle Owl Bubo Bubo in a Mediterranean habitat». undefined (em inglês). Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  20. a b c Nascimento Fazenda Lourenço, Rui (2005). A ecologia trófica do Bufo-real Bubo bubo e as implicações conservacionistas em ecossistemas mediterrânicos (PDF). Évora: Universidade de Évora. 57 páginas 
  21. a b c Cramp, Stanley (1985). The Birds of the Westem Palearctic. Vol. lV. Oxford, UK: Oxford University Press. 913 páginas. ISBN 978-0-19-857507-8 
  22. Chamamento do macho de bufo-real
  23. «Decreto-Lei n.º 140/99 - Anexo A-I - Espécies de aves de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de zonas de protecção especial». dre.pt. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
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